adriano menezes

NO MEU CASO




Lembrar você no meio do dia
é lembrar a carne e um espírito
meu fazendo raso o peito.
Desvio teimoso, alma
assoreada despejada curta
no encontro arenoso da lida
real mista no dia fantasma.
Ouvir a voz de deus melando
os quadris como um terceiro
lábio propondo a fala em braile
diante da porta de ferro e a farpa
delirante, fenda pingando
entre estranhos ares: o corpo
da mulher de deus estendido
no silêncio negro do amor
sem mim, condicionando
o gancho podre dos encontros
a outro beiço lambedor. 

2

O corpo de contato
é raso e de peso circunstante,
anda sem luz
dentro da noite
e jamais encontra o tom
da música de equívocos
que o vento mistura
na reserva dos sentidos.
Vestido de ideia
sopra a pele, a trempe
que improvisa fúrias


3

E a crosta que permeia
a cidade,
lisa e postiça
cessa no calçadão, ali
espera um oceano, em linha,
onde estendo
o sem entendimento,
desperdiçando a tarde
e o primeiro ímpeto de mergulho.
Vieses e trote em
falsete na areia.
Horizonte liso
sobre crácas.

4

Na madorna
o som distante do jogo
no radinho repõe em mim tudo
que existe. É uma hora
crédula arrancada do peito.
em pinceladas dominicais,
facadas na rede, no tempo.
Minha carne amarrota
a fina membrana
que emenda o corpo no dia.





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Um comentário:

  1. Adriano, sua obra literária, despojada de dogmas e crenças, corajosamente revela, sem utopias, a morte do sujeito coletivo, sem jamais perder o lirismo. A pergunta de quem é o novo homem emaranha-se em meandros muito bem trabalhados por mãos e coração de poeta. Parabéns meu querido, seu blog está lindo! Um grande abraço da amiga Sandra.

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