adriano menezes

INQUILINOS DO ROSÁRIO






















Sabe que haverá festa,
é sacudida pela tosse
antecipando no peito
o estorvo que o corpo
vive na mistura das horas.

Esquenta o xale no batente,
recusa bolo e café, diz
que tem gastura e que o
o aluguel não vale o incômodo.

O movimento da cozinha,
a ignorância dos bichos
que morrerão no terreiro,
o exílio na janela, o infinito
corredor cujas tábuas viram

a vida passar e ora perdem
a discrição, na severidade
do tempo a pé em suas costas,
delatam os passos da espera
que reúne velha e fresta.


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2 comentários:

  1. DOCE LAR

    A compoteira monotemática
    (doce de cidra)
    da estante da casa da minha vó
    (que não tinha cristaleira)
    era o coração da casa da minha vó.


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    3 comentários:

    Jean Dyego - Tarja Black disse...

    Poesia de um neto formiga!
    22 de julho de 2010 11:04
    Anônimo disse...

    Belo poema, Adriano.
    A minha vó Marieta também fazia doce de cidra. Havia uma crislaleira na sala ( como até hoje).
    Lá eu me encostava, displicente, só para provocar:
    -Cuidado com a cristaleira, minino!...
    Abraços,
    gilberto Nable
    23 de julho de 2010 06:22
    maria célia ferrarez disse...

    Obaaa! Cê não vai acreditar: minha mãe foi - para uma cruel inveja de minha parte, pra Cachoeira Alegre (próximo a Muriaé, onde nasci) exibir o seu novo e galante marido...veja bem que a inveja não é pelo marido.
    Pedi a ela: mãe, please, vá até a casa da madrinha Geralda (que não é minha madrinha) e descola um potinho de doce de Cidra.
    Minha mãe disse: Minha filha, a madrinha Geralda (que tb não é madrinha dela) tá bem velhinha, caduca e nem se lembra mais do que é cozinhar...
    Aí, de tudo, dessa madrinha Geralda, só me lembro daqueles vidros (antes ocupados por cobiçadas azeitonas pretas) sobre um aparador antigo (ela também não possuía cristaleira), cheiiiinhoo de doces de frutas. Jamais achei aquele sabor tão especial em qualquer outro pedaço de laranja, seja ofertado ou comprado. Lendo o seu poema, meus olhos encheram d'água... creio que ainda hoje procuro por ele... e outras coisinhas tão pequenininhas que conduzem minha tão, muitas vezes, pequena alma ao comecinho do que sou.
    É, Adriano, escrever é um presente. Hoje recebi mais um.
    Beijos e parabéns pelo doce poema.
    Maria Célia
    23 de julho de 2010 06:50

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